Breve História das ilhas de Cabo Verde

por oflavioboss
historia de cabo verde

Imagine um arquipélago virgem, banhado por águas atlânticas, onde apenas pombos e aves exóticas povoavam a terra. Assim era Cabo Verde antes da chegada dos portugueses, um conjunto de ilhas desabitadas que, por volta de 1460, se veria no centro de uma das maiores transformações da história mundial. Esta é a breve, mas riquíssima, saga de resiliência e afirmação de um povo que, contra todas as adversidades, esculpiu o seu próprio destino.

Descoberta e Colonização

A história de Cabo Verde começa oficialmente em 1460, quando os navegadores portugueses Diogo Gomes e António da Noli, a serviço do Infante D. Henrique, desvendaram estas terras atlânticas. As ilhas foram surgindo: São Cristóvão (hoje Boa Vista), Lhana (Sal), São Jacob (Santiago), São Filipe (Fogo) e Maias (Maio) foram as primeiras a serem mapeadas. Entre 1461 e 1462, as restantes – Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Santa Luzia e São João (Brava) – completaram o arquipélago. Um facto curioso e fundamental: até então, estas ilhas eram terra de ninguém, habitadas apenas pela natureza selvagem.

Em 1462, o destino de Cabo Verde começou a ser escrito na ilha de Santiago, com o povoamento da Ribeira Grande, hoje conhecida como Cidade Velha. Esta tornou-se a primeira cidade europeia fundada na África Ocidental, um marco que selaria o papel central do arquipélago. Seguiram-se os povoamentos da Boa Vista, Maio e Fogo em 1490, e gradualmente as restantes ilhas ao longo dos séculos. A população inicial era uma fusão de portugueses e escravos trazidos da costa ocidental africana, dando origem a uma cultura e identidade únicas, que seriam o alicerce de um povo notavelmente resiliente.

Comércio e Confrontos

Graças à sua localização geográfica privilegiada, no cruzamento entre Europa, África e Américas, Cabo Verde rapidamente floresceu. Entre os séculos XV e XVIII, as ilhas transformaram-se num ponto crucial de ligação e abastecimento para as vastas rotas comerciais do Atlântico. A Coroa portuguesa estabeleceu um lucrativo monopólio, cobrando impostos e comissões sobre cada embarcação e, de forma ainda mais sombria, sobre o infame tráfico de escravos. Cabo Verde tornou-se um importante entreposto, onde produtos europeus eram trocados por escravos, que seriam vendidos às plantações do Novo Mundo em troca de matérias-primas. O arquipélago prosperava, mas a troco de um custo humano incalculável.

A riqueza e a posição estratégica de Cabo Verde não passaram despercebidas. O monopólio português começou a ser cobiçado, levando a frequentes ataques à Ribeira Grande por potências europeias rivais, como a França, Holanda e Inglaterra. Estes confrontos acabaram por forçar a transferência da capital para a cidade da Praia, no século XVII. À medida que o domínio português na região diminuía e, eventualmente, com a abolição da escravatura, a outrora próspera economia de Cabo Verde entrou em declínio, revelando a sua fragilidade. O arquipélago mergulhou numa era de desafios, marcada por secas intensas, fome, corrupção e má administração.

A Luta Pela Liberdade

A partir do século XIX, a adversidade impulsionou um dos movimentos mais significativos da história cabo-verdiana: a emigração. Fugindo à seca e à fome, muitos cabo-verdianos embarcaram em navios baleeiros rumo aos Estados Unidos da América, ou procuraram trabalho em São Tomé e Príncipe. Foi um período de grande dispersão, mas também de uma crescente consciência e desejo de mudança.

Em 1951, Cabo Verde deixou de ser uma colónia e tornou-se uma província ultramarina de Portugal, e dez anos depois, os seus habitantes receberam oficialmente a cidadania portuguesa. No entanto, o sentimento de negligência por parte de Lisboa alimentou a chama da independência. Em 1956, na Guiné-Bissau, um grupo de intelectuais visionários, incluindo Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral, fundou o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). O seu objetivo: libertar os territórios africanos do domínio português, inicialmente através de um processo pacífico.

A luta intensificou-se. Em 1963, o PAIGC avançou para a luta armada na Guiné. A declaração de independência da Guiné-Bissau em setembro de 1973 foi um catalisador que, no ano seguinte, levou à Revolução dos Cravos em Portugal. Este golpe de Estado em 1974 não só libertou Portugal de 40 anos de ditadura, como também abriu caminho para a autonomia de todas as suas colónias.

Finalmente, a 19 de dezembro de 1974, o PAIGC e o Estado português assinaram o acordo para um governo de transição. A tão desejada independência de Cabo Verde foi proclamada a 5 de julho de 1975, com Aristides Pereira como presidente e Pedro Pires como primeiro-ministro. Em 1991, Cabo Verde deu mais um passo decisivo rumo à consolidação democrática, realizando as suas primeiras eleições multipartidárias.

Hoje, a resiliência insular prevaleceu. Cabo Verde não é apenas um país independente; é um exemplo vibrante. Destaca-se como o quarto país africano com o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano e é reconhecido como um dos governos mais democráticos de África. A sua história, marcada por desafios, comércio e uma luta incessante pela liberdade, culminou numa nação próspera e orgulhosa, que continua a encantar o mundo com a sua cultura e a sua inegável morabeza.

Um Abraço Fraterno de Cabo Verde 🙂

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